Retina Desgastada
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1 de julho de 2008

O Ciclo

O texto abaixo foi originalmente publicado em 28 de Agosto de 2006, no site Something Awful (que é medíocre em 90% dos tempos e genial nos outros 10%). Apresento aqui uma livre tradução:

Mortyr Casamata Nazista
Dia D - 1944
Na periferia da Área da Missão

Casamata
"Você já teve a sensação," ele deu uma pausa e mediu o peso do rifle, “que nós somos apenas atores em uma peça criada para outra pessoa?"

"Não," o outro homem respondeu, "nós apenas seguimos ordens."

A casamata sacudiu com o impacto de uma explosão distante e detritos perdidos deslizaram para dentro das barricadas acima. Os soldados dentro da casamata estavam acostumados com o assovio-pancada da artilharia. Morteiros caíam próximos a cada 14 segundos. Precisamente.

"Qual é o seu nome?" o primeiro home perguntou ao outro.

O outro homem ergueu sua SMG para que o primeiro homem pudesse ver.

"Soldado de Assalto Especial," ele disse.

"Ah," o primeiro homem respondeu, "Eu sou apenas um Soldado Nazista. Eu sempre quis ter uma destas armas que vocês caras tem."

"Pois é," Soldado de Assalto Especial concordou, "elas são bem bacanas. É pra quem pode. E tem alguns caras na casamata do outro lado da trincheira que tem metralhadoras. Mas eu não sei o nome deles. Não parecem ser muito simpáticos."

"Quem é aquele maluco ali?" Soldado Nazista perguntou e apontou na direção de um terceiro homem que andava sem sair do lugar atrás de uma caixa.

"Ele?" Soldado de Assalto Especial deu uma olhada no uniforme cinza do homem e seu quepe. “Oh, olha lá, ele tem uma pistola. É um Oficial Nazista."

"Mas... o que é que ele está fazendo?" Soldado Nazista perguntou..

"Eu diria que ele está tentando atravessar os caixotes," Soldado de Assalto Especial deu de ombros. "Ele é um Oficial. Acho que ele pode fazer o que lhe der na telha."

Os dois homens se agacharam sem falar por um tempo, escutando a pancada regular da artilharia distante e observando a passagem escura da casamata.

"Então eu-," Soldado Nazista começou.

"Eu não-," Soldado de Assalto Especial disse no mesmo instante.

"Vai, continua," Soldado Nazista riu.

"Não, diz você," replicou Soldado de Assalto Especial.

"Está certo," Soldado Nazista concordou, "eu só ia perguntar o que exatamente nós devíamos estar guardando."

"A passagem, eu acho. Os americanos estão vindo pela passagem e nós temos que mandar bala neles."

"Certo, mas, por quê?" Soldado Nazista perguntou. "Não tem nada atrás de nós além de outro túnel que abre para..."

"Os canhões da artilharia," Soldado de Assalto Especial terminou a frase de Soldado Nazista.

"Pois é, aqueles com as caixas amarelas grudadas que brilham, em forma de dinamite."

"Isto mesmo," Soldado de Assalto Especial concordou, "aquelas caixas estranhas, como fantasmas ou algo assim. Eu fico imaginando para que elas servem."

"Talvez Oficial Nazista saiba," Soldado Nazista levantou a voz. "Oi, Oficial Nazista, pra que é que servem aquelas caixinhas amarelas que brilham nos canhões?"

O Oficial Nazista apenas continuou andando de encontro aos caixotes, sem sair do lugar.

"Estou achando que tem algo esquisito com ele," observou Soldado de Assalto Especial.

"Pois é, estado de choque."

Brothers in Arms Há uma pausa e os dois homens se aprumam para escutar o matraquear distante de metralhadoras.

"Parece que os Americanos estão chegando," Soldado de Assalto Especial pareceu preocupado.

"Nós ainda temos tempo," Soldado Nazista observou, "eu ainda não escutei as duas zonas de artilharia que eles têm que atravessar. Aqueles vão ter que explodir primeiro."

"Como é que nós vamos parar estes caras?" Soldado de Assalto Especial perguntou.

"Com sorte, aquele tanque que está esperando atrás da cerca vai acabar com eles. Eu escutei o tanque e ele está prestes a arrebentar a cerca e começar a atirar. Como é que os Americanos esperam deter um tanque Tiger?"

"Talvez," Soldado de Assalto Especial parecia inseguro, " mas eu vi alguns daqueles caras da metralhadora colocando um lançador de foguete e alguns foguetes na trincheira logo em frente ao tanque. Parecia uma boa idéia para mim naquela hora, mas, analisando bem agora, realmente não faz sentido."

Soldado Nazista estava prestes a concordar que era uma péssima idéia, mas ambos se calaram diante do gigantesco troar da primeira das zonas de artilharia explodindo. Nenhum dos dois precisava expressar seus temores sobre o avanço dos Americanos, eles apenas trocaram um olhar de compreensão.

"De onde você veio?" Soldado Nazista perguntou para quebrar o silêncio.

"Eu vim de lá," Soldado de Assalto Especial moveu a cabeça na direção da artilharia. "Como todo mundo."

"Eu quero dizer, de que país, de que cidade?"

"Ah, bem, entendi, eu não sei. Que nem você. Nazistas e prédios."

"Você tem uma família?"

O Soldado de Assalto Especial coçou a cabeça.

"Ué," ele disse, "sim, eu acho. E você?"

"Esta é a questão," Soldado Nazista disse, visivelmente confuso, "Eu não sei se tenho ou não. Eu tenho esta sensação de que sim, e parece que eu vim de uma cidade aí e fiz a escola de Soldados Nazista. Eu fui treinado em algum lugar. Mas eu não consigo lembrar nada além desta casamata e o Dia D."

"Pior é que é," o Soldado de Assalto Especial concordou, "comigo é o mesmo. É esquisito."

"Deixa eu ligar este rádio," Soldado Nazista levantou e foi até um pequeno rádio, "talvez alguém vá dizer alguma coisa."

Soldado Nazista gira a sintonia e uma música suave começa a toca, mas dura apenas alguns segundos antes de começar novamente. Ele gira a sintonia outra vez e uma voz imediatamente começa a gritar.

"Nós estamos lutando pelo povo da grande Alemanha contra a intrusão dos bolcheviques e a interferência dos judeus internacionais! Soldados do Reich, vocês jamais devem recuar diante do assalto do rei judeu Rosenfeld e seus soldados escravos. A vitória será nossa e-"

A voz se interrompeu no meio da frase e o discurso voltou a repetir desde o começo.

"Eu sinto como se eu soubesse quem esse cara é, mas eu não sei que caramba é esse que ele está falando," Soldado de Assalto Especial observou.

"Pois é," concordou Soldado Nazista enquanto desligava o rádio, "e tudo fica repetindo e repetindo."

"Agora que a gente parou para pensar, eu tenho uma sensação de que nós já passamos por isto antes," Soldado de Assalto Especial ficou subitamente preocupado. "De que outra forma você lembraria que as explosões na artilharia significariam que os Americanos estão vindo?"

"É mesmo, você está certo," Soldado Nazista colocou o capacete na cabeça e coçou o queixo, pensativo. "Talvez seja um tipo de prisão. Tipo, tudo vai continuar se repetindo até nós descobrirmos uma forma de sair disto."

"Pode ser," Soldado de Assalto Especial se levantou. "Talvez nós devêssemos-"

Com um estrondo de explosões, a segunda zona de artilharia foi pelos ares. Ambos os soldados olharam para o teto e para o volume crescente de tiroteio vindo de cima. O Oficial Nazista virou-se um pouco, mas continuou andando contra as caixas.

"O tanque é tudo que resta entre nós e os Americanos agora," Soldado Nazista observou. "Nós devíamos voltar para nossas posições."

Os dois soldados se agacharam atrás de algumas caixas. Soldado Nazista repentinamente vislumbrou movimento na extremidade final da passagem.

"O que é aquilo se mexendo no fim do corredor?" Soldado Nazista murmurou apreensivo.

Soldado de Assalto Especial se inclinou para o lado para dar uma olhada pela lateral das caixas. Ele retornou às pressas de volta à cobertura.

"Você viu aquilo?" Soldado de Assalto Especial perguntou com um sorriso. "São curativos. Alguém largou-os no meio do corredor assim e eles estão girando e girando no ar."

"Com todos aqueles armários e gavetas lá embaixo? Eles simplesmente deixaram curativos perfeitinhos flutuando no meio do nada?"

"E girando," Soldado de Assalto Especial completou, "Não esqueça que eles estão girando. É estranho pra caramba, eu sei."

"Talvez a gente devesse pegá-los, pro caso da gente levar um tio," Soldado Nazista se levantou, "Eu vou trazê-los pra cá."

Soldado Nazista caminhou até os curativos, mas não conseguiu pegá-los. Todas as vezes em que ele se abaixava para segurá-los, seus dedos simplesmente passavam através.

"Mas que bodega é esta?" Soldado Nazista se espantou.

Houve um barulho acima deles e o som de lagartas de tanque se movendo. O canhão do tanque disparou muito próximo da entrada da casamata e as vibrações ecoaram corredor abaixo.

"Esqueça isto, volte aqui," Soldado de Assalto Especial checou sua SMG.

Soldado Nazista correu para trás das caixas e mirou seu rifle para o corredor. O tanque disparou novamente e metralhadoras pipocaram lá em cima.

"Sabe, tem um rádio mais lá pra trás, em um outro aposento," Soldado Nazista sugeriu enquanto ajustava a mira, "eu poderia pedir reforços."

"Você está falando daquele rádio com todos aqueles papéis em frente?"

"Este mesmo."

"Aquele rádio que esta brilhando amarelado e nunca foi usado por ninguém?" Soldado de Assalto Especial adicionou um tom sarcástico a sua voz.

"Bem...," Soldado Nazista travou, "pois é. Falou, valeu. Não precisa tirar onda com a minha cara."

Repentinamente, ouve-se um disparo seco, seguido por um som de assovio. Soldado Nazista gritou que aquele era o som do foguete anti-tanque sendo disparado, mas o estrondo do foguete atingindo o blindado abafou suas palavras.

Medal of Honor "Eles estão chegando!" Soldado de Assalto Especial gritou por cima do zumbido que ficou no ar. "Prepare-se!"

"Esta é a nossa chance de romper este ciclo de repetição!" Soldado Nazista berrou de volta. "Nós temos que parar os Americanos aqui e agora!"

Eles escutaram gritos em uma língua estrangeira e então batidas de botas, como se um homem acabasse de descer os degraus que conduziam à casamata. Um homem virou a esquina, seus olhos preenchidos com fúria. Para a dupla de soldados, ele parecia um demônio ou uma força da natureza. Seu uniforme de força especial surrado estava furado de bala em duas dezenas de lugares. Seu peito estava coberto com sangue, ainda assim, ele parecia ileso. Disparos emergiram do cano de sua Thompson e projéteis arrancaram lascas das caixas que os soldados estavam usando como cobertura.

"Juntos!" Soldado de Assalto Especial urrou sobre o barulho interminável da SMG do soldado americano. "Quando ele recarregar!"

Soldado Nazista concordou e os dois aguardaram por uma pausa no tiroteio incessante. Segundos depois, a chuva de balas parou e eles escutaram o clique do invasor procurando outro pente de munição. Quando eles se ergueram por cima das caixas, entretanto, eles ouviram o distinto som de uma granada quicando no chão próximo de seus pés.

"GRANATE!" o Oficial Nazista gritou.

Oficial Nazista se libertou de sua jornada rumo às caixas e saltou para frente, apanhando a granada e jogando de volta no Americano. O soldado se esquivou da explosão e disparou com sua Thompson, reduzindo o Oficial Nazista a pedaços.

Inspirados pelo repentino gesto de heroísmo do Oficial Nazista, Soldado Nazista e Soldado de Assalto Especial começaram a atirar no Americano. O invasor avançou para eles, ignorando o perigo. As balas perfuravam através de seu peito, mas o maníaco continuou se aproximando, em linha reta para eles. O invasor disparou uma rajada com sua automática, mandando o Soldado de Assalto Especial voando para trás em um jato de sangue.

"Não!" Soldado Nazista urrou.

O Americano estava exatamente em cima dele. Soldado Nazista atirou com seu rifle, acertando o inimigo em seu peito já perfurado. O Americano pendeu para trás. Com um grito de desespero e raiva, Soldado Nazista atingiu o outro com a coronha de seu rifle. Para sua surpresa, o Americano gemeu e caiu de costas.

"Nós conseguimos!" Soldado Nazista gritou.

Soldado de Assalto Especial gemeu, profundamente ferido, e lutou para se sentar.

"Nós matamos o Americano!" Soldado Nazista comemorou. "O ciclo acab-"

"O caminho mais rápido para terminar uma guerra é perdendo." 
- George Orwell

Casamata Nazista
Dia D - 1944
Na periferia da Área da Missão


"Você estava dizendo alguma coisa?" o homem com a SMG perguntou ao homem com o rifle.

"Hein?,"o homem com o rifle estava um pouco desnorteado. "Não, eu estava só, bem, perguntando... qual é o seu nome."

A casamata sacudiu com o impacto de uma explosão distante e detritos perdidos deslizaram para dentro das barricadas acima. Os soldados dentro da casamata estavam acostumados com o assovio-pancada da artilharia. Morteiros caíam próximos a cada 14 segundos. Precisamente.

"Soldado de Assalto Especial," o homem respondeu enquanto o barulho se dissipava, "e eu acho que isto significa que você é o Soldado Nazista."

"Pois é," Soldado Nazista riu. "Meu irmão, acabei de ter o maior deja vu agora..."

Call of Duty

Ouvindo: Xmal Deutschland - I Push it Harder

Um comentário:

Michael Andrade disse...

Engraçado que há um bom tempo que venho pensando infantilmente sobre a vida de cada personagem num jogo, por mais secundária que ela seja. Será que o rapaz que atropelamos durante uma partida de GTA tinha família? E como ela estará agora sem ele? E aquele soldado dentre todo um exército que lutou por você numa batalha de Age of Empires que após vencer essa batalha, comemorou com seus companheiros em campo mas foi morto numa emboscada voltando para a base? Tendo uma reflexão assim, é possível vivenciar cada jogo num nível muito superior. Mas nada também super exagerado e doentil hahaha!

Pois bem, esse diálogo entre os dois soldados inimigos do protagonista me lembrou dessas minhas reflexões bobas. Obrigado pela tradução do texto! Um forte abraço!

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