Retina Desgastada
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22 de julho de 2008

Sangue Novo

Blood 2 Aconteceu em Blood 2 o maior susto que eu já levei em um jogo eletrônico. De gelar o sangue e fazer você largar o teclado por alguns segundos. Apesar de todos os defeitos que a continuação de Blood possa ter, este mérito ninguém tira.

O primeiro pecado desta sequência é tentar inserir uma história onde antes praticamente não havia nenhuma. O primeiro Blood era simples e direto: o vingador Caleb estava determinado a destruir a Cabal em nome de sua amada e seus amigos, os Escolhidos, traídos e assassinados. Na verdade, todo o enredo do jogo cabia no arquivo readme. As cutscenes do jogo eram toscas, revelavam muito pouco e acabavam desnecessárias. Blood 2 traz os Escolhidos de volta da morte sem explicar como, apresenta a organização Cabal misteriosamente reestruturada em forma de mega-corporação (a CabalCo) e um inimigo, Gideon, com planos secretos que não fazem sentido.

Lançado em 1998, um ano depois do primeiro, o jogo é contemporâneo de Half-Life, que finalmente conseguia realizar o casamento FPS+história com sucesso. Mas, o que aparece em Blood 2 é uma série de diálogos frouxos e provocações entre Gideon e Caleb, uma trama que visa destruir toda a realidade e uma mistura indigesta de ciência do século XXI com feitiçaria. A ação desencanada do primeiro jogo tenta se revestir de propósito e fracassa.

O segundo pecado está na escolha da engine. A Monolith se arriscava com o primeiro protótipo do sucessor do Build: a embrionária Lithtech 1.0. Esta versão inicial produziu um jogo pesado para as máquinas de sua época, repleto de bugs e visualmente inferior aos motores gráficos de Unreal e Quake 2. Enquanto o primeiro jogo rodava em qualquer 486 largado no canto da sala, Blood 2 pedia uma placa de vídeo 3D e um processador robusto.

Se os programadores deste jogo deixaram a desejar, a equipe de direção de arte caprichou. Ainda que os níveis não sejam tão variados quanto o primeiro Blood, a atenção para os detalhes e palheta paleta de cores escuras criaram ambiências assustadoras. Prepare-se para ver muita sujeira, escombros e nojo. A infame cena da máquina de lavar realmente perturba.

Blood 2 - Carnificina

O terceiro pecado de Blood 2 está justamente no aspecto perturbador e sua ausência de humor. O primeiro jogo possuía uma grande dose de auto-crítica e não se levava a sério, apesar do tema mórbido. O clima de filme B é completamente descartado nesta continuação e o jogo sucumbe diante do peso da própria opressão. Blood 2 é um jogo de terror com pouquíssimos momentos de descontração. Se, nos dias de hoje, isto é uma qualidade a ser buscada em jogos do gênero, o rompimento com o espírito do jogo original não caiu bem.

O Iluminado Neste clima deprimente de combate com as forças das trevas, sofri o maior susto já proporcionado por um jogo. Não que o primeiro Blood não tivesse seus momentos de pular da cadeira, normalmente associados com a aparição súbita de um Phantasm ou com diversos zumbis quebrando as paredes para uma emboscada. O que eu vi em Blood 2 foi uma inesperada homenagem ao filme “O Iluminado”, fugaz, uma simples aparição de frações de segundo que provocou a seguinte reação instintiva: “mas como isso foi parar no jogo?! Sai, assombração!”. Qualquer jogo capaz de criar um estado de nervos tão tenso que te faz se indagar se não estaria vendo coisas que não existem, é um jogo para ser respeitado. Ou será que eu imaginei mesmo?

O maior defeito de Blood 2 é tentar ser uma continuação do primeiro. Ao não corresponder às (minhas) expectativas, ele perde valor. Fosse Blood 2 um jogo independente da saga, certamente sua avaliação seria muito melhor, um excelente FPS com alguns pontos fracos. Mas, como sequência, Caleb ainda espera uma nova aventura à altura.

Ouvindo: Specimen - Wolverines

3 comentários:

Anonymous disse...

Palheta de cores, não. Paleta. PALETA de cores.

C. Aquino disse...

Ops! Mal aí! Corrigido!

Hawk disse...

Só faltou o link com o vídeo da cena aterradora.

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