Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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28 de novembro de 2008

Salto Para o Abismo

Mirror's Edge Mirror's Edge é um jogo que tem chamado minha atenção desde que o primeiro vídeo de apresentação foi lançado meses atrás. Prometendo um novo tipo de imersão em primeira pessoa, o jogo apresentaria uma perspectiva vertiginosa de uma aventura que mistura elementos de cyberpunk, parkour e anarquia. Com uma história escrita pela autora Rhianna Pratchett (filha do grande mestre Terry Pratchett) e uma trilha sonora new age, Mirror's Edge transpira inovação.

Infelizmente, parece que o jogo não está obtendo um resultado muito bom nas prateleiras. Talvez porque não tenha o que o "grande público" espera da personagem principal:

Faith

No canto esquerdo da imagem temos a protagonista como ela foi concebida pelos desenvolvedores: Faith ("Esperança", para quem não domina o idioma) é uma sobrevivente. Uma órfã de um regime totalitário que controla todos os movimentos de seus cidadãos. Desde pequena ela aprendeu a ser forte e acabou se tornando uma das melhores naquilo que faz. Faith é uma "runner", um profissional treinado para correr pelo alto dos prédios em alturas impossíveis e longe das câmeras de vigilância do regime, para entregar mensagens entre grupos revolucionários que lutam por um futuro melhor.

No canto direito, temos o trabalho de um artista anônimo da Internet que transformou Faith em uma personagem mais adaptada aos fetiches de jogadores cuja maturidade sexual parou aos treze anos.

A imagem comparativa entre o trabalho oficial e a modificação realizada por um suposto fã rodou a Internet e acabou parando nas mãos do "pai da moça", o desenvolvedor Tom Farrer. Com uma sinceridade rara e uma paixão pela sua obra, suas palavras são emblemáticas (grifo por conta da casa):

Eu lembro quando esta imagem foi enviada para mim pela primeira vez. Para ser honesto, eu a achei triste. Nós gastamos tempo na criação de Faith. E o fator importante para nós era que ela era humana, que ela era mais real.

Nós realmente queremos nos livrar da caracterização típica das mulheres nos jogos, de que elas todas sejam apenas peitos e bundas em biquínis de metal. Nós quisemos que ela parecesse atlética e forte (o suficiente) para que ela pudesse realizar os feitos que ela faz.

Nós a procuramos que ela fosse atraente, mas não a queríamos como uma supermodelo. Nós procuramos fazer com que ela fosse palpável e realista. É de certa forma deprimente que alguém pense que seria melhor se Faith fosse uma menina de doze anos com implantes de silicone. Isto é o que esta imagem parece para mim.

(Na mesma semana em que a Lei 3773/2008 é sancionada, é triste constatar que uma parcela da população consciente ou inconscientemente discorda de Tom Farrer e prefere transitar por um mundo distópico de fantasias sinistras.)

Assim, Faith prossegue, condenada a cair no esquecimento, pouco importando o conteúdo ou o sopro de criatividade de Mirror's Edge. Enquanto isso, Lara Croft, a eterna musa dos inseguros, prepara seu retorno, após dois filmes, inúmeros jogos, revistas em quadrinhos, livros e curtas animados.

Ouvindo: Camouflage - Helpless Helpless

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